quinta-feira, 30 de maio de 2019

Ensaio entre o íntimo e o privado


Quantas vezes se afirma que se invadem privacidades quando na verdade é de intimidades de que se fala, ou vice-versa.

Ambas as palavras têm tido um percurso que as torna quase um casal no léxico habitual. Mas na verdade não são um casal, são gémeas heterozigóticas, pois nascem de origens diferentes, com aspetos e significados diferentes, mas mesmo assim muitas vezes confundidas.

A Privacidade original do Latim privatus, que significa “pertencente a si mesmo, colocado à parte, fora do coletivo ou grupo”, particípio passado de privare, “retirar de, separar” e de privus, “próprio, de si mesmo, individual”.

Já a intimidade tem origem no Latim intimus, um superlativo de in que significa “em, dentro”. A intimidade refere-se, pois, à Coisa que pertence ao interior da pessoa, que ela não reparte a não ser que assim queira.

A privacidade é aquilo que a elas pertence e sobre a qual elas perdem controlo de partilha. Por exemplo uma roupa é algo que pertence à pessoa, mas todos a podem ver.

É, pois, decisão do próprio se torna a intimidade em algo privado. Mas alheiamente, a invasão da intimidade tornando-a pública, sendo privada, permite a quem o faz tornar-se inglorioso em duas dimensões: pela pretensa publicidade do íntimo (pretensa porque o íntimo sendo interno jamais pode ser interpretado por quem não é o próprio e pode por isso ser mal partilhada) e pela pretensão de gerir o recém tornado privado, pois mesmo deixando de ser íntimo, não deixa de pertencer ao próprio e por isso só ele decide se a partilha ou não.

A ponte entre o íntimo e o privado é ténue e é potencialmente abalada por ventos de calúnia e invasão. Mas no limite, nenhuma fonte de ventania pode jamais romper as cordas que sustentam a ponte: a Dignidade (de quem onera a ponte) e a Justiça, corda invisível, mas firme que nos permite confiar na vida em sociedade.



quinta-feira, 21 de julho de 2016

Ensaio sobre a Parentalidade


Ser Pai ou Ser Mãe é de facto uma condição de existência. É algo que apenas se pode conjugar com o verbo Ser e nunca com o verbo Estar. Pai ou Mãe é-se, não com ponto final, mas com as reticências do para sempre.

Um filho é de facto uma península que se eterniza, não do ponto de vista físico, marcada pela biologia da reprodução, mas do ponto de vista emocional… Parte do Amor incondicional para o infinito.

Por isso a parentalidade não se torna avaliável pela genética, mas pela condição de Ser. E o Ser não é identificável laboratorialmente, mas pelo abraço de paternidade libertária… Do deixar voar com a segurança de um ninho que não se esgota… Da certeza que o tempo não separa a península do Amor incondicional.

Ser Pai ou Mãe não pode mudar… Sendo-o é-se na eternidade… E a parentalidade perpetua por isso a condição espiritual da Humanidade. É na ligação da península que representa um filho, com o Amor incondicional, que reside a razão da existência. Todo o restante Amor aprende com este, desenvolve-se a partir deste. O Amor na parentalidade É o AMOR, nas reticências… Os outros podem transformar-se, do ponto de exclamação ao ponto final. Mas a referência será sempre este. O Amor Supremo. O Amor da Parentalidade. Seja como Pais, seja como filhos dos que São nossos pais. Ninguém ama em supremo no Estar e por isso Ser Amor é sinónimo de Ser na Parentalidade.

Parentalidade... Ser... Existir... 



terça-feira, 19 de julho de 2016

Ensaio sobre o Talvez



Talvez... A tal vez... A vez derradeira. Pois.

Talvez as ruas enevoadas sejam afinal contornos do caminho nítido do próprio nevoeiro que somos.

 E afinal talvez o aparente nada seja o tudo que se afirma no ténue preenchimento de um tempo desde amanhã passado. Talvez.

Ou talvez o sorriso pleno do que já foi se torne afinal hoje a lágrima congelada pela eternidade.

Ou talvez a hipótese seja a elevação da certeza que afinal era pequena quando a apertavamos nas mãos.

E assim talvez e só talvez a liberdade seja hoje o ontem que sempre foi. E talvez prime pelo suspiro do futuro.

Talvez... Certamente.

sábado, 25 de junho de 2016

Ensaio sobre o Amor Incondicional



Amar incondicionalmente. Une-se o sentimento Nobre e a complexa indefinição da não condição.


Comecemos pelo primeiro. Amor. Sentimento. Dramatizado no teatro da alma. Uma cápsula de emoções como a paixão (erotizada ou não – dependendo do tipo de Amor), a alegria, mas também o ciúme, a tristeza. Uma cápsula sim, mas aberta, por poros que trocam e fluem com o mundo. Uma cápsula também revestida. Revestida de Valores, de Crenças, de Atitudes, de Convicções… Amar é pois um afirmar a nós mesmos o perpetuar da companhia, do respeito, da admiração, independentemente da forma como brilha ou obscura a cápsula enquanto viaja pela vida.


Incondicional. Sem condição. Sem imposição de que algo tem de se verificar para a manifestação de algo. É apenas porque sim. Sem questões.


Amar incondicionalmente é por isso permitir-se à eternidade sem questões… Independentemente das lágrimas ou sorrisos, da ira do momento ou da esperança permanente… Amar incondicionalmente é assumir-se como imaterial… Para além do carnal… Para além da condição: aliás sem ela. 


Amar incondicionalmente não é para todos…

É para quem ama. Sem condições.

                                                                                                          Pedro Mello ©, 2014